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Anna Kalimar: CELA| Connecting Emerging Literary Artists


Anna Kalimar






 CELAConnecting Emerging Literary Artists




O Projecto:

O projeto CELA (Connecting Emerging Literary Artists) abre o palco europeu a uma nova geração de criadores literários. Permite uma cooperação transnacional intensiva entre talentosos escritores, tradutores e profissionais literários europeus em início de carreira. No decurso do projeto, os participantes enfrentam algumas das mais exigentes realidades da nossa era — de fraturas cada vez mais acentuadas na Europa a um setor editorial em mudança — e põem-nas em perspetiva, partilham o seu trabalho e colmatam o fosso que os separa do setor editorial e do público europeu.
As organizações literárias de seis países europeus uniram forças para fundar o projeto de incubação de talentos cela — Connecting Emerging Literary Artists. Partilhamos a necessidade de estabelecer uma infraestrutura sustentável de incubação de talentos para preservar a diversidade da literatura europeia e dar maiores oportunidades a línguas minoritárias. 
O projeto proporciona um percurso de dois anos com formação, instrumentos e uma rede que visam tornar possível uma carreira internacional e estabelecer uma prática profissional integrada. Com uma atenção em competências e mobilidade transnacional, incluímos especialmente as oportunidades digitais na literatura, novas formas de os participantes conseguirem emprego e rendimento.
Cada edição do projeto cela decorre durante dois anos. No primeiro ano, as organizações literárias orientam os escritores, tradutores e profissionais literários e proporcionam-lhes um programa multinacional de residências, formação e master classes para os preparar para trabalhar no mercado europeu e para um público internacional. No segundo ano, os participantes são inseridos por via de marketing internacional e campanhas publicitárias, uma digressão por festivais
europeus e apresentações ao público e a profissionais europeus por escritores e tradutores de renome (os nossos embaixadores cela) e organizações literárias. 

Os autores e tradutores participam em campanhas internacionais, festivais literários em diferentes países e numa rede de trabalho que proporcionará contacto entre todos os participantes.
Kick-Off: Hay Festival Segovia (Espanha)Tinto-no-Branco- Festival Literário de Viseu (Portugal), Book Fest (Roménia), Pisa Book Festival (Itália), Lev-Literatura em Viagem (Portugal), Passa Porta Festival (Belgium), Wintertuinfestival (Holanda) recebem os autores e tradutores do projecto CELA.

Parceiros:
Booktailors
Escuela de Escritores
Flemish-Dutch House deBuren
Passa Porta
Pisa Book Festival
Wintertuin

Biografia

Anna Kalimar

Ano de nascimento 1991
Nascida Roménia
Vive e trabalha em Bucareste
– Autora do romance The Irradiation of Some World (2008)
– Vencedora de um concurso nacional para escritores iniciantes (2008)
– Na sua obra de estreia, surreal e singular, as histórias têm temas e dimensões variadas, que têm encantado os leitores
–Atrai um público jovem (com base na idade media das personagens e nos temas abordados)
– «Faz-me pensar nos ambientes visionários de Magritte, de algum modo» (Vanni Santoni, autor italiano)



Sobre Anna Kalimar

«Ainda me lembro de fazer nove anos e receber um caderno de apontamentos. Era um caderninho robusto, com folhas brancas, quase tão macias como seda. Tinha uma imagem da Terra na capa. Escrevia pequenos textos nele, frases aleatórias muitas vezes. Palavras cujo som eu achava bonito ou que pensava adequarem-se a um sentimento.» Anna Kalimar fala sobre as suas memórias de forma expressiva. «Era um livro bonito, pergunto-me onde é que andará», termina, sorrindo. Levanta os olhos e acena com a cabeça com a mesma determinação. Um pequeno sinal que indica satisfação, como que estimando a sua própria abertura, mas ao mesmo tempo pondo-lhe um fim.
«Em Bucareste, segui o curso de cinema. Era para ser realizadora, gostava da ideia: o cinema é um meio visual e isso atrai-me.» Ela ri-se um pouco: fá-lo muito e especialmente no final das frases. Não porque tenha dito algo com piada, mas como se quisesse preencher o silêncio. Ela conta que gostou do curso de cinema: achou particularmente «interessante» o trabalho de grupo que a produção de cinema envolvia. Parecem palavras despreocupadas, mas que indiciam também a modéstia de Kalimar.
Aparenta ser o tipo de pessoa que se mantém amavelmente à parte num grupo, ainda que ela própria possa não gostar de interpretações desse género.
«Penso que não deves examinar o teu próprio trabalho com demasiada minúcia. Isso está fora de questão», explica Kalimar. Ela pega na garrafa de água que tem à sua frente em cima da mesa e segura-a a poucos centímetros da cara. «Assim também não consigo ver quase nada», ela fita o rótulo através das lentes dos óculos, quase tocando a garrafa com o nariz. «Foi por isso que pedi a uma amiga que descrevesse o meu trabalho», diz com entusiasmo, e volta a colocar a garrafa em cima da mesa.
Puxa de um bloco de apontamentos do bolso interior do casaco. «A minha amiga diz, e cito, que gosto de escrever sobre o absurdo, sobre a falta de
amor. E interesso-me por pessoas que conseguem escapar às limitações com que cresceram.»
Vê-se, mais uma vez, que ela não quer sobretudo manchar demasiadas palavras ao falar sobre o seu próprio trabalho. «Gosto de escrever», diz, encolhendo os ombros de forma desafiante. «Que mais posso dizer acerca disso?» Com um sorriso aberto, ergue os braços por uns instantes. Não desvia o olhar. «Nunca quis ser escritora. Queria escrever.»
Coaduna-se perfeitamente com o que Kalimar deixa transparecer: 
ela preferia falar sobre o seu trabalho. Parece não se importar que lhe façam um retrato deste género, mas antes queria omitir-se do mesmo. Por último:
terá o seu percurso em cinema influenciado a sua escrita? De novo, não desvia o olhar. Kalimar fica em silêncio por uns segundos. O olhar dela cai sobre o bloco de apontamentos. Enche o peito de ar, e por momentos parece que vai soltar um suspiro, mas depois diz lentamente: «É provável. Penso que sim. Gosto de descrever. Tenho, talvez, uma sensibilidade especial para roupas e decoração. Como se gostasse de pintar, no imaginário do leitor.» Volta-se a notar a sua abertura de espírito. Ela levanta um dos cantos da boca, algo entre um sorriso e um esgar.

Vídeo


Conto de Anna Kalimar

Deveria ter sido simples. Segues pelo corredor, primeira porta à direita, abre-la com um pontapé atirando-a à parede, olhas com satisfação para os seus rostos perplexos, percebes como a perplexidade se transforma em terror quando sacas da pistola e, sorrindo, disparas. E disparas de novo. E uma vez mais, até ninguém ficar de pé, exceto tu. A seguir, pões-te a andar dali e bebes um café. Sem problemas. Sem açúcar. Ninguém sabe que foste tu, porque de facto tu não existes. Estás na posse da tua própria certidão de óbito. Bizarro, olhá-la dessa maneira. Sentes um murro no estômago. O mesmo murro quando levas flores para a tua própria campa. Em vez disso, abres a porta com jeitinho e sorris. Oferecem-te um chá. Preenches um formulário. Até voltares a ti, já casaste com a caixeira e o vosso filho chama-se Hector. Seguramente, mudaste-te para outra cidade, com o nome de um tipo que na realidade já faleceu. Sem dúvida, alguém te ajudou neste propósito em troca de uma mala com dinheiro, à meia-noite, numa estrada no meio do nada. Durante a noite trabalhas num bar e de dia tentas vender próteses. Deseja uma perna? Uma mão? São muito resistentes, não precisa de as tirar para tomar banho. Temos de várias cores. Você e a sua nova mão verde serão a alma de qualquer festa! O teu filho é um dos bandidos de um bando de malfeitores e rouba lojas. Vende erva em espeluncas imundas e uma das vezes em que estava pedrado partiu a cabeça a um puto. A tua mulher detesta-te e acha que tudo aquilo que é mau na vida é culpa tua, mas mesmo que fosse forçada não to diria. Tem um emprego mais bem remunerado que o teu e suspeitas que ela tem um caso com o chefe. Tens consciência da tua própria imaterialidade. Embora do exterior a tua vida pareça normal, tu, de facto, não existes. E, num belo dia, desaparecerás. 
   O homem que não existe veste uma jaqueta de couro castanho e sai de casa. Não leva chaves nem telemóvel. Em vez disso, deixa um bilhete dizendo que não regressará, para que o deem como desaparecido e ponham a polícia na sua mira. Pela primeira vez desde há muito começa a sentir-se real. É um zé-ninguém. E um ninguém pode ser absolutamente qualquer um. Não está ligado a nada. Pode deslocar-se para qualquer lugar. Na sua mente, ainda persiste a imagem daquele corredor. É provável que sinta pena por não ter pressionado o gatilho naquela altura. Mas talvez tivesse dado no mesmo. Existem muitas situações sem saída, a que alguns homens apelidam de «destino». Tal como alguém obcecado por ti e indiferente ao teu comportamento insiste em fazer-te sofrer. Mas, em vez disso, podes sempre sumir. Talvez naquele dia tivesse sido melhor teres tomado café e te teres mantido longe daquele edifício.


Tradutor:

SIMION DORU CRISTEA

Simion Doru Cristea (1965) nasceu em Bistrita, Roménia. É licenciado em Cinema na Faculdade de Filologia de Babes-Bolyai. É pós-graduado em Filologia e História pela mesma universidade.
Publicou várias críticas, participou em publicações colectivas e publicou livros em seu nome:Manifestul elevului de nota 10 (The Manifest of the A mark Student, Dokia Publishing House), Funcția symbolic-mitică în textul religios (Symbolic-mythic function in Religious text, Cluj-Napoca, GEDO Publishing House) e o romance Să trăiți, Domule Președinte (God speed, Mister President, Cluj-Napoca, Dokia Publishing House).







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