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Shot #19: "As Mil e Uma Noites", tradução de Hugo Maia




Nós somos Xerazade quando combatemos a morte através das nossas histórias. Adiamo-la através das narrativas contadas geração após geração. As histórias são organismos vivos com capacidade de adaptação à época em que continuam a viver. 
Cada um dos narradores aumenta ou adapta a história contada. Ano após ano, contador após contador, os textos vão sendo alterados e afastam-se da versão primordial.  Ficamos a pensar: como terão sido as primeiras versões? 
A esta pergunta responde Hugo Maia com “As Mil e uma Noites” traduzidas a partir dos mais antigos manuscritos árabes.  O tradutor verteu para português o árabe da Síria e do Egipto. 
Em entrevista à Comunidade Cultura e Arte, o tradutor afirmou: 
“No caso especificamente português, é a primeira tradução directamente do árabe. Todas as traduções têm sido feitas do francês, baseadas na versão do Antoine Galland [1646-1715] e da do Mardrus [1868 –1949]. Há edições que foram feitas cá há várias décadas que combinam as duas, resultando numa outra versão. É preciso ter em conta que a versão do Antoine Galland tem certas particularidades. Por um lado, ele traduziu o mesmo manuscrito que eu traduzi, que é o mais antigo que se conhece das “Mil e Uma Noites”, só que traduziu de uma forma completamente diferente do que está lá no manuscrito. Por exemplo, todas as partes eróticas foram alteradas. No conto das três moças de Bagdade e do carregador, há uma orgia com vinho e comida. Para Galland, é uma espécie de jantar romântico à luz das velas. Antoine Galland inventou uma série de coisas que não enriquecem nada a história e alterou significativamente outras partes.” 



O 2º volume começa com a 102ª noite e termina na 282ª noite, finalizando assim a narração de todas as noites até agora conhecidas. 
A tradução dos três volumes de “As Mil e Uma Noites” deve ser celebrada como foi a tradução de “Odisseia” ou “Ilíada” por Frederico Lourenço. Hugo Maia é pedagógico e esclarecedor tanto no preâmbulo existente no 1º volume como nas muitas notas de rodapé existentes nos dois volumes até agora publicados. Talvez aqui resida também o ponto menos conseguido do 2º volume: a ausência de um prólogo como o existente no primeiro. Ficamos à espera que no 3º e último volume venham as esclarecedoras palavras do tradutor, seja num preâmbulo ou num posfácio. 
As histórias de Xerazade ultrapassaram o desprezo das elites literárias, devido às características da oralidade, e entraram no cânone literário.   
“As Mil e Uma Noites”, publicadas pela E-Primatur, são daqueles livros que devem estar em qualquer biblioteca. Devem ser lidas e arrumadas junto ao “Decameron”, de Boccaccio, ou aos “Contos da Infância e do Lar”, dos Irmãos Grimm. 



Titulo:     As Mil e Uma Noites - Volume II
Autores:  Anónimo, Hugo Maia (Introdução, Tradução e Notas)
Género:  Tradicional
Editora: E-Primatur
Formato: 15,5x23,5cm
N.º Páginas: 456
Data: Janeiro de 2020
ISBN: 978-989-8872-24-1
Preço: 19,81






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1 Comentários

Carlos Faria disse…
Li o primeiro volume deste conjunto no período de confinamento, já tenho o segundo que até contribui no crowdfunding e espero ainda vir a comprar o terceiro que já saiu.
Ainda não me cruzei com algumas das personagens famosas das Mil e Uma Noite, mas já percebi a estrutura da obra, gosto muito das notas explicativas associadas à tradução.