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Matias Candeira: CELA| Connecting Emerging Literary Artists








 CELAConnecting Emerging Literary Artists




O Projecto:

O projeto CELA (Connecting Emerging Literary Artists) abre o palco europeu a uma nova geração de criadores literários. Permite uma cooperação transnacional intensiva entre talentosos escritores, tradutores e profissionais literários europeus em início de carreira. No decurso do projeto, os participantes enfrentam algumas das mais exigentes realidades da nossa era — de fraturas cada vez mais acentuadas na Europa a um setor editorial em mudança — e põem-nas em perspetiva, partilham o seu trabalho e colmatam o fosso que os separa do setor editorial e do público europeu.
As organizações literárias de seis países europeus uniram forças para fundar o projeto de incubação de talentos cela — Connecting Emerging Literary Artists. Partilhamos a necessidade de estabelecer uma infraestrutura sustentável de incubação de talentos para preservar a diversidade da literatura europeia e dar maiores oportunidades a línguas minoritárias. 
O projeto proporciona um percurso de dois anos com formação, instrumentos e uma rede que visam tornar possível uma carreira internacional e estabelecer uma prática profissional integrada. Com uma atenção em competências e mobilidade transnacional, incluímos especialmente as oportunidades digitais na literatura, novas formas de os participantes conseguirem emprego e rendimento.
Cada edição do projeto cela decorre durante dois anos. No primeiro ano, as organizações literárias orientam os escritores, tradutores e profissionais literários e proporcionam-lhes um programa multinacional de residências, formação e master classes para os preparar para trabalhar no mercado europeu e para um público internacional. No segundo ano, os participantes são inseridos por via de marketing internacional e campanhas publicitárias, uma digressão por festivais
europeus e apresentações ao público e a profissionais europeus por escritores e tradutores de renome (os nossos embaixadores cela) e organizações literárias. 

Os autores e tradutores participam em campanhas internacionais, festivais literários em diferentes países e numa rede de trabalho que proporcionará contacto entre todos os participantes.
Kick-Off: Hay Festival Segovia (Espanha)Tinto-no-Branco- Festival Literário de Viseu (Portugal), Book Fest (Roménia), Pisa Book Festival (Itália), Lev-Literatura em Viagem (Portugal), Passa Porta Festival (Belgium), Wintertuinfestival (Holanda) recebem os autores e tradutores do projecto CELA.


Parceiros:
Booktailors
Escuela de Escritores
Flemish-Dutch House deBuren
Passa Porta
Pisa Book Festival
Wintertuin


Biografia

MATIAS CANDEIRA


Ano de nascimento 1984
Nascido Espanha
Vive e trabalha em Madrid
– Autor do romance Fiebre (Febre, Candaya, 2015) e quatro livros de contos: La soledad de los ventrílocuos (A Solidão dos Ventríloquos, Tropo, 2009), Antes de las jirafas (Antes das Girafas, Páginas de espuma, 2011), Todo irá bien (Vai Correr Tudo Bem, Salto de Página, 2013) e Ya no estaremos aquí (Não Vamos Estar aqui, Salto de Página, 2017), e do guião de Fase terminal (Fase Terminal), curta-metragem selecionada para muitos festivais de cinema espanhóis e estrangeiros
– Publicado em várias revistas (Quimera, Esquire, Time Out, Tierra Adentro, El estado mental, ABC Cultural) e antologias espanholas, entre as quais Última temporada (Lengua de Trapo, 2013), Mi madre es un pez (Libros del silencio, 2011), Pequeñas Resistencias 5 (Páginas de espuma, 2010), Aquelarre (Salto de página, 2010)
– Vencedor de várias bolsas literárias, entre elas a da Fundação Antonio Gala para Jovens Criadores (2010), a da Fundação Han Nefkens (2013) e a Fundação Leonardo BBVA, uma das mais prestigiadas para jovens escritores espanhóis
– Incluído pelo jornal ABC e pelo suplemento literário El Cultural nas suas listas de melhores romancistas de língua espanhola (2013 e 2015)


Sobre Matias Candeira

«Quando se trabalha num livro há sempre um momento em que uma pessoa dá de caras com um muro. Uma pessoa já se encontra de volta disto há algum tempo, já se escreveu bastante, mas, de repente, a história parece um muro. Embate-se nele e tenta-se contorná-lo. Vai-se à procura de uma maneira de entrar na própria história. Quem são as personagens? À volta de quê é que giram os seus conflitos?» 
   Matías Candeira coça a sua barba curta aparada. Na parte superior das suas bochechas veem-se pelos de barba curtos. Por baixo destes corre uma área de barba bem cuidada. «Quando começo, nunca sei onde é que o texto vai parar. Há escritores que fazem as coisas ao contrário? Eu, pelo menos, não. Quando escrevo, faço-o de forma explorativa. A minha recompensa é ir à procura daquilo de que se trata o texto», e termina a frase com um sorriso breve. Não se trata de uma gargalhada. Ele ri-se entre dentes, riso esse que já se vem a desenrolar há alguma distância. 
   Candeira já publicou uma novela, coletâneas de histórias e cenários. Ele gosta bastante de escrever e, se possível, em quantidade, e sempre prestando atenção à língua. «Tal desempenha um papel de relevo, sim. Coloquemos a questão nestes termos: Sempre me senti um falso poeta. Como se fosse um poeta que tivesse sido traduzido para prosa. Escrevo histórias em que a poesia sempre se encontra bastante próxima.» Esta visão da literatura também se parece aplicar ao próprio Candeira. Ele avalia cada palavra com o maior cuidado. «Não, deixe-me reformular isto», diz ele, para, de seguida, fazer uma afirmação mais precisa. «A língua é uma ferramenta extremamente interessante. É um meio de distorcer a realidade e de criar confusão. Isto atrai-me imenso.» 
   Ele prossegue, agora de forma mais audível: «O facto de a nossa realidade ser a única coisa que reivindica ser verdadeira, irrita-me. No que me diz respeito, esconde-se tanta verdade em algo que não é real como naquilo que é. Esta é uma das razões que me leva a escrever. Pretendo construir algo que vá além da nossa visão limitada da realidade.» Candeira dá um exemplo: «Vamos imaginar que uma pessoa foi encarregue de escrever um texto acerca de uma menina e um gato. O que é que se vai escrever?», pergunta ele de forma desafiadora. «Vai-se escrever acerca de como eles se acarinham um ao outro?», diz com um ar afável. «Prefiro descrever a forma como o gato lambe o rosto da menina, ou como a menina se começa a comportar como um gato. Por outro lado, o gato poder-se-á tornar uma menina. Eu criaria algo que não se encontra enraizado na realidade. Não tenho qualquer interesse numa descrição realista.»
    Candeira coloca um dos braços sobre o encosto da sua cadeira. O outro fica debaixo do queixo, com o indicador dobrado perto da boca. De repente, parece ficar a refletir, quase que por acidente, tendo em conta que a sua presença é mais alegre do que tímida. «O meu trabalho nem sempre é realista e, por vezes, comporta algo pesado. Interesso-me pela escuridão. Escrevo personagens que nem sempre se dão a conhecer. Nem ao leitor, nem a mim.» Ele regressa ao muro do qual tinha falado anteriormente. Também ele dá ares de se ter apercebido de tal, mas não diz nada. Ele apenas sorri ironicamente e, de seguida, traça as pernas. 





Vídeo





Conto de Matias Candeira

Torcidos

Naquela noite chamava-me, e não parecia que fosse parar.
— Mamã. Mamã!
Dizia-o assim, oferecendo-o a mim e ao quarto enquanto se encolhia numa escuridão de cera, cheia de brinquedos (a sua única propriedade).
Voltou a gritar-mo, com muito mais força, e então afastei o olhar e acariciei
o copo de uísque, mesmo debaixo da base, até que a humidade passou para
a ponta do dedo.
A palavra estava bem cosida ao seu cérebro desde bebé.
Fiquei muito quieta enquanto observava a forma brilhante e obstinada da gota. Não era um crime deixar que aprendesse a sentir frio, ou como tragá-lo. Imaginava a sua língua ao estender-se, o excesso de saliva ao dizer com clareza quem era eu nesta casa, mamã, mamã, mamã; essa reza sufocada, essa súplica ao único Deus que realmente conhecia. Algumas vezes, desde que nasceu e o segurei nos meus braços, desejei que me vissem uns olhos diferentes. Ser simplesmente uma desconhecida que se afasta completamente, mas ao mesmo tempo se reflete, um instante, nas pupilas de quem está a olhá-la. Nunca me chamava pelo meu verdadeiro nome. De novo outro apelo, mamã, vem, a gota tensa e afiada na ponta do meu dedo, mamã, mãezinha, já a desviar-se. Agora, essa palavra chegava a mim numa correria com um som húmido; tantas vezes amolecida num choro pela febre, por um pé que lhe ficou preso ao sair do carro.
— Vem — repetiu. — Está a falar comigo.
Tapei os ouvidos. Reconhecia a dor. Então detive o olhar na mesa de madeira onde comíamos (às vezes com as mãos, como num filme de que ele gosta; os esquilos falam com eloquência grega entre os ramos de um grande carvalho e partem nozes com a mandíbula, têm os dentes achatados, enormes; depois vencem um mau). Três cadeiras estavam separadas. Eram de design industrial, negras, e brilhavam muito sob a luz do candeeiro. A minha cadeira, a do meu filho e a cadeira em frente. Apenas Adrián brincava na sala. A terceira tinha de ter sido separada por ele. Voltei a atacar o copo, cada vez mais gelado. Talvez lambesse o fundo para tentar perceber.
Um pressentimento vibrava por trás daquela imagem; o facto de a terceira cadeira, separada da mesa de jantar, ser tão real nos seus detalhes. Havia algo de estranho na forma como estava colocada, como se alguém tivesse
acabado de se sentar ali a conversar comigo; a dizer-me…, não pude acabar de pensá-lo.
— Mamã, vem — voltou a dizer.
— Dorme, Adrián. Quero estar sozinha. Há muitos outros momentos em que estou contigo.
— É que…
— Já te disse para dormires.
Ao ouvir-me, já devia ter coberto a cara com o seu edredom com desenhos de aviões, até não deixar passar o ar. Não se calou desta vez. Era estranho.
Sempre tinha sido uma criança obediente, com os dentes separados e brancos. Viam-se na escuridão. Nem sequer vomitava quando tinha gripe.
— Está a falar comigo.
Eu tremia outra vez ao beber, e pressionava o copo contra o peito. A pele das pontas dos dedos ia ficando branca, sem sangue.
— Tapa a boca, filho. Cerra bem os dentes.
Cravei a minha voz no corredor, na bola esvaziada, em todos os seus bonecos de guerreiros mutantes amontoados numa espécie de vala (uma vez tinha bebido e, antes de fechar a porta do seu quarto, disse-lhe que tinha tirado a cabeça a cada um dos bonecos e ele mostrou-mos). Quem estaria a falar com ele? O sabor ácido e denso do uísque fazia que a minha cabeça cercasse o coração dessa frase. Ramificava-se e abria-se mais. De repente, era como se o meu filho me pudesse contagiar ao ponto de me aparecerem manchas e depois eu já fosse capaz de ver ao meu lado um dos seus amigos invisíveis. Sentado, sem se mover.
— Cala-te de uma…
Cravei a voz na porta do seu quarto e retorci-a para que não me chamasse mais. Restava-me quase meia garrafa. Mas ele continuava a pedir que fosse lá. Não ia parar. Se calhar não podia, e agora o seu corpo estava doente daquele verbo. Vem nos músculos, atrás dos olhos. Vem, está a falar comigo, encharcando-se no sangue. Estava muito tonta, por isso levantei--me, respirei fundo e cobri-me com a palavra de novo. Bebi uma vez mais para apagar a luz.
— Mamã.
Ao dizê-la em voz alta, com a tontura, achei-a demasiado branda.
Tinha-se deformado. Na rua não passava nenhum carro. Pareceu-me distinguir uns pássaros imóveis, cravados nos ramos da acácia do outro lado da rua. O nevoeiro colava-se à janela como o faz uma língua. Era apenas uma avenida vazia onde caía a pique a palavra mamã, e eu não podia ir atrás, quase não podia segui-la ou correr atrás dela. Tinha de ficar fechada com ele ali. Passei ao lado da terceira cadeira e acariciei o encosto. Pede um desejo. A luz fazia-a escorregadia, de um negro irreal. Pede um desejo. Uma fenda em metade da casa.
Continuei a caminhar, adentrando-me no corredor com mais dificuldade. De repente, pisei algo duro e tropecei. Bati contra a esquina da parede. Consegui apoiar-me. De certeza que era um boneco. O rangido branco do plástico ao partir-se trepou-me pela perna.
— A mamã vai — disse em voz alta, e ri-me sozinha. — Está muito perto.
Detive-me outra vez e olhei as nossas fotografias penduradas na parede. Em várias passava o braço pelo ombro de Adrián, suavemente, e já não parecia
mamã, mamã, mamã. A sensação anterior surgiu-me mais forte na garganta. Metia-se dentro. Vem. Mas não podia deixar de olhar as fotos. Dava a impressão de que, nesses lugares onde tínhamos pedido a algum habitante que nos fotografasse — a aldeia onde passávamos as férias, a sua poeira húmida, os seus olhos por trás dos cortinados —, também tínhamos deixado um lugar, sempre à esquerda, para mais alguém. Ao lado de várias molduras, encontrei traços de lápis vermelho e amarelo. A ponta tinha deixado incisões na parede. Eram desenhos de Adrián. As cabeças dentadas de um grupo de crianças, seguramente. Estaria eu ali? Não podem ver-te, Clara. As nossas imagens misturavam-se com os desenhos retorcidos das crianças, a lápis. Tinha pintado cada um de uma cor, sem cara, com braços em forma de pau ou as pernas em espirais, ganchos, pontas. Queria ele que entrassem dentro das nossas fotos? Estavam muito próximos. Fui até à cozinha e abri a janela para olhar o nevoeiro e deixar que pousasse no parapeito.
Quando me meti no seu quarto, ele tinha começado a alterar o grito.
Assim que me viu, na ombreira da porta, tirou o edredom da cara. Só deixou descobertos os olhos e o nariz. Sussurrava-me algo com pequenas agulhas de voz, mas eu não compreendia o que me queria dizer.
— O que fizeste à parede? — disse.
Cerrei o punho. Tremia, e não me importava que me descobrisse assim.
— São meus amigos.
— Esses não são os teus amigos. Tens de fazer melhor as linhas da cara.
Talvez fosse a altura de começar a falar-lhe como a um adulto e tirar proveito disso. Sei que uma mãe nunca jamais deve brindar em frente do seu filho. Eu fi-lo.
A toalha tapava o suporte na parede, em frente à cama. Tinha preparado o seu quarto para que não me incomodassem os brinquedos, e sobretudo, a cara do urso que pendurei ali quando ele tinha quatro anos. 
Tempos antes, tinha-lhe ensinado a cobri-la quando acabasse de brincar com ele. Costumava pedir-me que a tirasse de lá, quando tinha pesadelos.
Num deles, contou-me, o dentista arrancava-lhe os dentes, um a um, e punha-lhe lápis de cera nos buracos. Depois pedia-me que a voltasse a pôr, e então o urso era o verdadeiro monarca do quarto. Parecia que ao cobri-lo com a toalha estava a arrancar o único pedaço de beleza.
Desta vez, tirei a toalha dos ganchos e ri-me segurando com muita força o copo. Bebi. Acariciei-lhe o focinho. Tinha um desses rostos animais ridículos, onde o nariz e a boca eram de um tamanho exagerado. O fabricante tinha-lhe tirado os dentes, imagino que por um medo completamente absurdo: que isso fosse traumatizar a criança. O interior da boca era uma pura massa de plástico rígido, parecido com uma pasta ensanguentada. O urso ria-se. Ríamo-nos os dois. Não voltei a tapá-lo.
— Porque não dormes?
— É que ele não deixa de falar comigo.
— Os ursos não falam, Adrián. Não tem língua.
Mas eu não estava a olhar para o animal quando o disse. O nevoeiro cobria quase toda a rua, um intestino que saía do outro lado da janela e se metia debaixo dos carros. Os ramos tinham folhas curvas, torciam-se por causa do vento e caíam sem som. Adrián tremia; e eu necessitava de beber, voltar a deitar-me no sofá ou procurar outro sítio. Fora.
— É melhor que durmas — disse, e senti que desenterrava as palavras. — Ouve o que te digo.
Ao aproximar-me, notei que estava pálido e que lhe brilhavam os olhos, como se lhos tivessem acendido por dentro. Toquei-lhe na testa e segurei-a. Estava quente, embora ainda não tivesse febre. Pareceu-me que movia os lábios e que dizia vem. Gemeu uma vez mais.
— Mamã, tu tens frio, como ele.
— Sim, tens razão. Tenho muito frio.
Ao arranjar lugar a seu lado, senti que a cama estava demasiado afundada e pensei, um instante, na terceira cadeira separada da mesa.
Deixei o copo no chão. Creio que cheguei a ouvi-lo a entornar-se. Então peguei-lhe na cabeça e apertei-a contra o meu peito. Agora, via os meus pés nus. A boca do urso tinha-se esfumado no meu olhar; e era negra, as gengivas, tudo aberto. Deixei escorregar a mão da cama, tentei tocar no copo, mas os dedos pesavam-me e não o encontrei. Encharquei-os no uísque. Senti que delirava a nado, num círculo, como se pudesse ver com mais claridade, mergulhar-lhe a cabeça ali, no vermelho e no amarelo — queria beber, e ele resistia nos meus braços —; mergulhá-lo em mamã, e ao fundo, um lago cheio de crianças que flutuam muito quietas à superfície. Eu própria ocupando lentamente o lugar de uma dessas crianças pintadas na parede e entrando numa fotografia em que só aparecesse a minha figura.
Queria ficar ali. Virar-me e ir-me embora, voltar a colocar a cadeira.
— Vem — disse.
Ainda continuava a apertar-lhe a cabeça.

Tradutor

MATIAS GOMES

Ano de nascimento 1972
Nascido Portugal
Vive e trabalha em Lisboa
– Tradutor de espanhol > português, inglês/francês > português e português > inglês
– Professor de Português (ensino secundário)
– Mestrado em Literatura Medieval Portuguesa (publicação de várias comunicações feitas em Congressos da Associação Hispânica de Literatura
Medieval — AHLM)
– Dinamizador da comunidade de leitura «Conversas Para Lê-las» (só literatura de mulheres escritoras) durante cinco anos
– Organizador e dinamizador de workshops «Drag King» (p. ex., «Here Comes Your Man»), enquanto ativista de género.




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