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Shot #38 "O Medo do Céu", de Fleur Jaeggy

 




Caberá um romance na estrutura do conto? 

“O Medo do Céu” (Alfaguara), de Fleur Jaeggy (n.1940, Zurique), tem na tensão e na morte os motivos que unem os sete contos. 

Uma mãe que detesta a filha; uma criada oriunda de uma aldeia italiana com um objecto de devoção; duas mulheres que se juntam para cumprir uma promessa; um cão que assombra; gémeos órfãos que se aplicam no enfeite de caixões, uma velha perdida na vaidade. 

“Felizes Anos de Castigo” marcou o início da publicação da obra da escritora suíça em Portugal. “Viagem no Proleterka” foi a obra seguinte e sucedida por “O Medo do Céu”.  

O registo estilístico é homogéneo entre as três obras, e a extensão curta é partilhada. 

No entanto, a estrutura das narrativas tem diferenças assinaláveis não só entre livros (inevitável) , mas principalmente em “O Medo do Céu”. 

 Há contos em que existe “demasiado enredo” para um formato tão curto. A concatenação é inevitável. Fica a sensação de serem romances que não foram desenvolvidos.  Os pormenores são profusos e as incidências demasiadas. 

Perde-se a tensão por haver demasiados factos; a velocidade da narrativa é obrigada a acelerar no tempo, ficando a história focada na viagem (com excesso de velocidade) de ponto A a ponto B. 

Mas há contos mais concisos e que se detêm em pontos fulcrais, mantendo a tensão e sob a estrutura própria de uma narrativa curta; abrandam onde têm de abrandar, concentram-se em pormenores reveladores, são geridos com destreza. 

Sete contos desiguais na sua estrutura, mas contínuos no tom onírico e na nebulosidade negra que paira em todos os eles. 



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