“O Medo do Céu” (Alfaguara), de Fleur Jaeggy (n.1940, Zurique), tem na tensão e na morte os motivos que unem os sete contos.
Uma mãe que detesta a filha; uma criada oriunda de uma aldeia italiana com um objecto de devoção; duas mulheres que se juntam para cumprir uma promessa; um cão que assombra; gémeos órfãos que se aplicam no enfeite de caixões, uma velha perdida na vaidade.
“Felizes Anos de Castigo” marcou o início da publicação da obra da escritora suíça em Portugal. “Viagem no Proleterka” foi a obra seguinte e sucedida por “O Medo do Céu”.
O registo estilístico é homogéneo entre as três obras, e a extensão curta é partilhada.
No entanto, a estrutura das narrativas tem diferenças assinaláveis não só entre livros (inevitável) , mas principalmente em “O Medo do Céu”.
Há contos em que existe “demasiado enredo” para um formato tão curto. A concatenação é inevitável. Fica a sensação de serem romances que não foram desenvolvidos. Os pormenores são profusos e as incidências demasiadas.
Perde-se a tensão por haver demasiados factos; a velocidade da narrativa é obrigada a acelerar no tempo, ficando a história focada na viagem (com excesso de velocidade) de ponto A a ponto B.
Mas há contos mais concisos e que se detêm em pontos fulcrais, mantendo a tensão e sob a estrutura própria de uma narrativa curta; abrandam onde têm de abrandar, concentram-se em pormenores reveladores, são geridos com destreza.
Sete contos desiguais na sua estrutura, mas contínuos no tom onírico e na nebulosidade negra que paira em todos os eles.
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