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Festival Literário da Gardunha 2016



O destino especial dos portugueses



No segundo dia do Festival Literário da Gardunha, Dulce Maria Cardoso, Pedro Mexia, Mário Zambujal e o professor Alexandre Manuel (moderador) participaram na primeira “Mesa Redonda”, no Teatro Clube de Alpedrinha.

O Festival Literário da Gardunha começou no Auditório Moagem, no dia anterior, e continuou fora do Fundão, no Teatro Clube de Alpedrinha.
A paisagem envolvente já promete as desejadas cerejas. Os caprichos da Natureza atrasaram a produção deste ano.
Dulce Maria Cardoso, que esteve em residência literária ao abrigo do festival, revelou que a cereja era vangloriada em Angola, durante a infância da autora.
Devido à sua delicadeza, a cereja chegava mirrada e pouco saborosa a um país onde os frutos são luxuriosos. Mesmo assim, os portugueses comiam o fruto vindo da sede do Império como se fosse de sabor e aspectos raros.
As experiências e imagens coleccionadas na infância são matéria-prima para a criação literária da autora de livros como “O Retorno”, “Campo de Sangue” ou “Os Meus Sentimentos”.
“Eu ainda cantei hinos ao Império, na escola”, afirmou.
A mistificação do Império era algo muito presente.
“Tudo isto me foi vendido pessoalmente”.
Para Dulce Maria Cardoso, os portugueses pensam ter um destino especial; é algo que já vem dos Descobrimentos. Aos poucos, a História vai sendo descoberta.
“Seis Milhões de africanos foram deslocados para o Brasil”.
A versão actual ainda é dominada pela ficção. Só mais tarde teremos ensaios e estudos que permitirão saber a verdade.
“Fomos aos rio de Meca, Pelejamos e roubamos”, disse a autora citando Gil Vicente.




Pedro Mexia, actual consultor para a cultura do Presidente da República, disse que para os portugueses a viagem é uma espécie de justificação. É uma forma de autodescoberta.
Os portugueses procuraram na viagem (e na expansão) uma forma de contrariar a pequenez geográfica. A viagem transformou-se num desígnio.
A desintegração do Império marcou Portugal. A pequenez geográfica originou uma ferida narcísica, característica não partilhada por Inglaterra, cujo império também se desmantelou.
Segundo Pedro Mexia, a crítica à expansão aparece muito cedo na literatura portuguesa. Sá de Miranda, Gil Vicente e Camões são mordazes. “Auto da Índia”, de Gil Vicente, é particularmente violento. No entanto, existe também no ser humano um impulso para a descoberta de o Outro, sem intuitos marcados pelo egoísmo.





Mário Zambujal chegou ao Teatro Alpedrinha “fresco de paisagens”. Antes da “Mesa Redonda”, o autor de “Crónica dos Bons Malandros” esteve num colóquio sobre vinhos na região do Douro. Confessou ter feito todas as provas de vinho.
Mário Zambujal não se sente tentado a escrever sobre paisagens, pois vê-as como inertes. As paisagens humanas são-lhe mais entusiasmantes.
“Viajei muito no tempo em que se viajava pouco. O que nos encanta é a novidade e a surpresa. Isto vai-se perdendo”
O escritor confessou que quando está no estrangeiro quer voltar para Portugal.
“Sou um portugalão. Sou mesmo daqui. Adoro estar aqui.”
Segundo Mário Zambujal, a viagem só é perfeita quando a cabeça está a observar o que os olhos vêem.
O segundo e último dia de viagem do Festival Literário da Gardunha viria a voltar ao Fundão para, depois de várias “Mesas Redondas”, terminar com a Conversa Cruzada entre Tiago Salazar e Clara Ferreira Alves sobre viagens.



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