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Mafalda Veiga: "A gentileza hoje é revolucionária"



“Não te ofenderei com poemas”. Assim começou a quinta mesa do festival Correntes d`Escritas, na Póvoa de Varzim. As palavras de Sophia Mello Breyner serviram de mote para as intervenções dos músicos Amélia Muge, Aldina Duarte, Mafalda Veiga, Uxía e  Mbana no Cine-Teatro Almeida Garrett.
  
Sala cheia para ouvir Aldina Duarte afirmar que era a primeira vez que participava nas Correntes d`Escritas. “Graças ao bendito fado”.  
Começou com um concerto, na quarta feira, e continuou nesta mesa. A fadista confessou que não seria tão  boa no que faz se não fosse a literatura. Este encontro de escritores dá a possibilidade de conhecer as pessoas por trás dessas palavras.  
“ A arte dos outros tornou-me mais sensível e pensante.” 
Se é verdade que os versos que canta podem ofender, também sabe que as feridas só são curadas quando expostas. 





Amélia Muge congratulou-se pela composição do painel.  Não foi por acaso que deram este verso de Sophia a uma mesa de músicos. A poesia nasceu com os músicos”, afirmou. 
 A ofensa nos dias de hoje é o pão nosso de cada dia. A cantora alentejana está no lado da música que combate, não no lado de quem ofende. Quem ofende não quer debate, fecha-se. 
A literatura está presente na vida de Mafalda Veiga desde muito cedo. Um dos factores mais marcantes na sua vida foi o curso de literatura na faculdade de letras. Devido a este mote, voltou ao tempo na faculdade para analisar o poema e escrever um texto para ser lido. 
A ofensa é um acto diário e comum, com a pessoa escondida nas confortáveis fibra e banda larga, disse Mafalda Veiga. A gentileza hoje é revolucionária. Ser gentil é ser profundamente corajoso. A suspensão da ofensa gratuita é uma forma de justiça. A busca da justiça é um mote fundamental da obra poética. Se um dia a cantora contasse a sua história, queria que fosse como a de Sophia ou de Patti Smith em “Apenas miúdos" .
O guineense Mû Mbana afirmou que, um dia, outro músico guineense, mais velho, aconselhou a nunca fazer uma canção para ofender uma pessoa. Uma canção vive para sempre. Essa pessoa pode mudar, mas a canção fica para sempre. A Guiné é um país de composições feitas por mulheres. O homem toca instrumento e a mulher canta. É a voz que traz história. 
A galega Uxía, na sua primeira participação no festival, sublinhou a feliz junção de mundos diferentes como os da Galiza, Portugal e Guiné sob um tema comum. 
Para Uxía, a diversidade cultural ofende muito nesta sociedade quase fascista. A poesia pode ser universal e por vezes pode ofender, mesmo sem intenção.  A poesia luta contra o esquecimento, desata nósa poesia busca além das palavras, é uma via de conhecimento, muitas vezes em contracorrente. Por vezes, a poesia ė também caos, quando dá voz aos sentimentos. A poesia chega às entranhas e desvenda; ofende, defendechateia, incomoda. Os poetas podem ser inclusivamente mortos por tanto incomodar. Poesia serve para tirar o homem do  desencanto, pode ser obscena, revolucionária. 

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